Essa foi a conclusão da live promovida pelo Conselho Regional de Economia do Paraná, no evento que discutiu os principais aspectos para retomada do segmento econômico no Brasil e nos estados após a pandemia do coronavírus.
Em comemoração ao Dia do Economista e celebrando os 69 anos da criação da Lei do Economista, diversos economistas paranaenses se reuniram em uma live na tarde do dia 13 de agosto, às 14h30, para discutir os aspectos e tendências da economia brasileira em três momentos: no período pré-pandêmico, no atual e as perspectivas pós-pandêmicas, além das características da economia paranaense e seus efeitos. De um modo geral, segundo as exposições dos economistas, as perspectivas da economia brasileira, frente às medidas que estão sendo adotadas, principalmente pelo Governo Federal, não serão boas e efetivas para o próximo período. A moderação ficou a cargo do vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Paraná (CoreconPR), o economista Eduardo André Cosentino.
O economista Carlos Magno Bittencourt, presidente do CoreconPR e Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC, iniciou fazendo uma análise entre anos de 2014 a 2018, onde percebe-se, que no auge da crise, em 2015, foram gerados mais de 14 milhões de brasileiros desempregados e o PIB com uma retração de 8%, o que equivaleu a um tombo de 600 bilhões de reais. Isto, segundo o economista, levou os Estados a quebrarem ou a se endividarem, além do congelamento dos preços administrados pelo Estado, prejudicando a indústria e aliado a uma forte queda nos preços das commodities. Com o andamento da crise, veio o desmonte do tripé macroeconômico (meta de inflação – superávit primário – regime de câmbio flutuante). Mas antes, em 2011, com o crescimento da Receita em linha com o PIB foi-se percebendo rápida deterioração ocasionando a incapacidade do Governo em gerar os superávits primários, promovendo desconfiança dos empresários, queda nos investimentos, consumos e ações, colocando o país na pior recessão dos últimos 30 anos.
Esses sucessivos desgastes levaram ao impeachment da presidente Dilma em 30 de agosto de 2016. Após isso, segundo Magno, já com Michel Temer, houve a aprovação da PEC do Teto dos Gastos, demonstrando a leve retomada da economia já no primeiro trimestre de 2017. Contudo, após o escândalo das escutas telefônicas, uma crise sem precedentes no novo Governo quase gerou um novo processo de impeachment No final deste ano, a economia ainda continuava retraída, indústrias quebradas e cerca de 13 milhões de desempregados. Em 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro, houve a aprovação da Reforma da Previdência e da Lei da Liberdade Econômica, fechando o ano com a menor taxa de juros da história, e com as contas dentro das metas estabelecidas.
Para Luciana Bastos, Mestra e Doutora em História Econômica pela USP, a pandemia do novo coronavírus ocasionou ao redor do mundo diferentes impactos. Como exemplo, a professora demonstrou que em nações como Espanha, França e Reino Unido estes desgastes foram mais acentuados, enquanto na China, epicentro da pandemia, a economia continua com crescimento positivo. Aqui no Brasil, a especialista revela que de cada 10 empresas, cerca de 6 sentiram de alguma forma os efeitos da Covid-19, levando-as ao fechamento e as demissões que, segundo ela, cresceram 13,1%, em 2020. Dados de trabalho não são animadores, pois do levantamento apresentado, somente entre abril e maio, 13,8 milhões de postos de trabalho foram encerrados, com a região Sudeste liderando com 31%, seguida da região Nordeste do país, 28%. Outros índices ainda apontam em abril a queda no varejo (17,9%), da produção industrial (27,34%) e aumento na dívida pública em 58,05%, do Produto Interno Bruto Brasileiro.
Segundo Luciana, dentre alguns dados negativos, outros se apresentam como tendências, como por exemplo, a grande expansão digital sofrida no Brasil e no mundo, em números que chegam a 18% e 30% respectivamente. Luciana ainda relaciona as medidas adotadas pela Secretaria da Fazenda do Governo Federal, para conter a crise, destacando a liberação do FGTS, do 13° Salário, o Auxílio Emergencial, além da criação de linhas de crédito para as empresas e liberação de recursos para pesquisas científicas e auxílio para os Estados e municípios. Uma evidência que demonstra o aumento dos gastos para controle da pandemia. Segundo a economista, o país gasta três vezes mais que a China e a Turquia e cinco vezes mais que o México e a Colômbia na tentativa de frear as contaminações e os prejuízos causados pela pandemia.
O economista José Maria Ramos, Doutor em Direito pela PUCPR, professor adjunto da Unioeste e delegado do CoreconPR, comenta que há uma certa letargia nas medidas adotadas pelo Governo Central e que discutir perspectivas econômicas neste momento pandêmico torna-se bastante complicado, pois segundo ele, há uma certa preocupação em até onde as medidas anunciadas serão implementadas, pela falta de planejamento das autoridades. Para Ramos, esse rombo na economia, que é expressivo, só piorou a situação da nação, que já vinha caminhando com sérias dificuldades desde os anos 1980. Ao mesmo passo que as condições de isolamento e restrições provocaram queda no consumo, renda e aumento do desemprego, o mercado agrícola tem conseguido manter as exportações brasileiras. Mesmo assim, há previsão de déficit para 2020.
Ramos ainda ressalta que a maior preocupação do Governo está no equilíbrio fiscal, e que estes cortes fiscais de gastos, ao invés de promoverem a retomada, criarão mais dificuldade para a recuperação do segmento econômico, ainda mais, lembra o economista, quando os benefícios hoje concedidos, cessarem. José Maria Ramos finaliza salientando a necessidade da alteração da matriz econômica brasileira como uma reforma efetiva que consiga prover a retomada econômica, aos moldes dos anos 1930, no governo de Getúlio Vargas.
A economia paranaense não fica atrás, também sofrendo com os efeitos da pandemia do novo coronavírus. Segundo Jandir Ferreira de Lima, professor do departamento de Economia com Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Unioeste, o Estado paranaense vem sendo impactado pela sua forte relação econômica com a Ásia, especialmente a China. Interiormente no Estado, a presença das cooperativas faz com que a dinâmica econômica se concentre mais fortemente nestas regiões. Segundo Lima, as cidades sofreram impactos diferenciados ao longo deste período. Toledo por exemplo criou mil vagas de emprego, Palotina se manteve estável, e outras cidades maiores como Londrina, Cascavel e Curitiba viram seus índices de ocupação diminuírem bastante. Outro fator que contribui na atenuação dos efeitos da pandemia é a capilaridade do Estado, como as universidades e também com o aporte realizado por algumas prefeituras, que vem assumindo a taxa juros dos créditos tomados pelos empresários.
Contudo, para Jandir Ferreira de Lima, torna-se necessário uma expansão logística nas malhas do Paraná, a fim de que toda a produção e movimentação possa, de maneira mais rápida, chegar ao destino. Além do planejamento dos governos frente à outra crise enfrentada pelos paranaenses, a da estiagem, finaliza.
Ao final da live comemorativa pelo Dia do Economista, foi aberto um momento para os participantes poderem fazer suas perguntas. Diversas questões e dúvidas referentes ao processo de retomada econômica no pós-pandemia foram comentadas e elucidadas pelo profissionais convidados. A live está disponível na íntegra no canal do YouTube do CoreconPR.