No mês de julho de 1994, o Brasil vivenciou um marco histórico com a implementação do Plano Real. A nova moeda trouxe a tão almejada estabilidade econômica após um longo período de hiperinflação. Em comemoração aos 30 anos dessa conquista, o Conselho Regional de Economia do Paraná traz uma matéria especial sobre os 30 anos do Plano Real no Brasil, e para isso foram entrevistados dois economistas paranaenses: Solídia Santos e Carlos Magno Andrioli Bittencourt, que compartilharam suas perspectivas sobre um pouco da história da moeda e os seus desafios, impactos e o legado do Plano Real.
Desafios da Implementação da nova moeda
A economista Solídia Santos destaca que o principal desafio na implementação do Plano Real foi superar o ceticismo da população e dos setores empresariais. A economia brasileira estava marcada por uma hiperinflação que atingia quase 3.000% ao ano, alimentada por sucessivos planos econômicos fracassados como foram os planos: Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Verão, Collor I, Collor 2 e finalmente o Plano Real. Além disso, o contexto político pós-impeachment de Fernando Collor, com escândalos e o traumático bloqueio das contas financeiras, contribuiu para a desconfiança geral. Segundo Solídia, “o grande desafio foi superar o ceticismo da população e dos próprios políticos.”
O economista Carlos Magno Bittencourt complementa, afirmando que a dificuldade estava em convencer a população de que o Plano Real seria diferente dos anteriores. A estratégia de comunicação foi crucial para superar as dificuldades iniciais. “Essa estratégia ajudou a superar as dificuldades iniciais,” ressalta Carlos Magno.
Impactos Econômicos Imediatos
Sobre os impactos econômicos imediatos, o economista Carlos Magno destaca que em sua percepção o primeiro impacto foi o da “cultura da inflação”. A transição da Unidade Real de Valor (URV) para o Real permitiu que a nova moeda começasse sem a “bagagem” da inflação, proporcionando uma base limpa para a economia. “A cultura da inflação foi o primeiro impacto, pois a URV embutiu toda a inflação até que, a partir de 1º de julho, foi criada a nova moeda, o Real.”
Já a economista Solídia Santos complementa que antes mesmo da URV, os impactos foram à estabilização gradual das contas públicas, o corte de gastos governamentais e o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI). A estabilização da inflação possibilitou um aumento da demanda e do crédito, resultando em ganhos reais de renda e estímulo ao consumo. “A queda da inflação trouxe um aumento da demanda, principalmente por causa da queda da inflação, resultando em ganho real de renda,” explica Solídia.
Contribuição para a Estabilização Econômica
Solídia Santos enfatiza que a transparência e a implementação gradual das medidas foram fundamentais para a credibilidade do Plano Real. A estabilização monetária trouxe uma recuperação do poder de compra e uma maior previsibilidade econômica, estimulando investimentos e o crescimento econômico sustentável. “A transparência das políticas públicas e o corte de gastos públicos deram muita credibilidade para a população,” observa Solídia.
O sucesso do Plano Real para Carlos Magno Bittencourt se deu à seriedade e à competência dos economistas envolvidos, que evitaram os erros dos planos anteriores. A estabilização dos preços permitiu que cidadãos e empresas pudessem planejar a médio e longo prazo, algo inviável em um ambiente de alta inflação. “O objetivo de reduzir a inflação contribuiu muito para que os cidadãos e as empresas pudessem planejar no médio e longo prazos.”
Impacto Social
A estabilização econômica inseriu novos consumidores no mercado, especialmente os menos favorecidos, permitindo que famílias passassem a consumir produtos antes inacessíveis devido à inflação elevada. “Famílias passaram a consumir produtos que antes eram proibitivos devido à elevada inflação,” afirma Carlos Magno.
Percepção Internacional
Ambos economistas concordam que o Plano Real melhorou significativamente a credibilidade internacional do Brasil. A estabilização da economia atraiu investimentos estrangeiros e reforçou a imagem do país como uma economia emergente capaz de controlar a inflação. “O Plano mudou totalmente a nossa imagem no cenário internacional, atraindo investimentos e favorecendo nossa integração,” destaca Solídia.
Lições Aprendidas
Solídia Santos enfatiza a importância da transparência e da implementação gradual das políticas econômicas, enquanto Carlos Magno Bittencourt ressalta a necessidade de despretensão política e a seriedade na condução das reformas. “A transparência das políticas públicas foi uma lição extremamente importante,” afirma Solídia. “A seriedade e a despretensão política foram cruciais,” complementa Carlos Magno.
Legado e Futuro
Trinta anos após a implementação do Plano Real, Carlos Magno Bittencourt observa que uma nova geração desconhece a hiperinflação, beneficiando-se de um ambiente econômico mais estável. O Plano Real sedimentou o terreno para que o Brasil tenha condições de galgar posições de destaque no cenário global. Para continuar essa trajetória de estabilidade, ele destaca a importância do respeito às instituições, controle dos gastos públicos e reformas, tais como a administrativa, política e tributária. “Uma nova geração foi forjada com um novo ambiente econômico,” reflete Carlos Magno.
Solídia Santos acrescenta que a continuidade das reformas estruturais e a inovação são essenciais para o desenvolvimento sustentável. “No longo prazo, precisamos de reformas de infraestrutura e modernização da gestão,” conclui Solídia.
A conclusão foi que o Plano Real não apenas estabilizou a economia brasileira, mas também trouxe lições valiosas sobre a importância da transparência, da seriedade nas políticas públicas e da necessidade constante de reformas para garantir um desenvolvimento sustentável. Comemorar os 30 anos dessa conquista é reconhecer o impacto positivo que a estabilização econômica trouxe para o país e refletir sobre os desafios e oportunidades para o futuro.
Sobre os economistas:
Solídia Santos, Economista, Doutora em Educação e Novas Tecnologias; Mestre em Organizações e Desenvolvimento; Contabilista e Especialista em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria. Conselheira e consultora nas áreas de economia e finanças corporativas.
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Carlos Magno Andrioli Bittencourt, Economista e Doutor em Engenharia de Produção. Consultor Econômico e Conselheiro em organizações.
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