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UM NOVO JEITO DE ORGANIZAR A VIDA ECONÔMICA

by Roberto Cirino
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Marcus Eduardo de Oliveira

Desde que a natureza e os principais serviços ecossistêmicos foram entregues às forças do mercado capitalista de consumo, passando assim a orientar o dogma maior da economia, vale dizer, o crescimento econômico, pouco tempo depois, dois “produtos” emergiram – e, desde então, tem se acentuado cada vez mais – decorrentes desse processo de dominação/espoliação econômica da natureza: o desequilíbrio climático (dado o exagerado nível de emissão de gases de efeito estufa, dentre esses, o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o perfluorcarbonetos (PFC’s ) e também o vapor de água) e o esgotamento ecológico (notadamente, a depleção dos recursos naturais e energéticos).
Dessa ação de domínio do meio ambiente severamente imposta pela política de crescimento econômico sem fim, percebida num mundo ecologicamente limitado, contam-se ainda uma série de outros “subprodutos” que tem ocasionado seríssimas consequências às vidas humana e não humana, posto que inexoravelmente condiciona ao empobrecimento biológico da Terra, a saber: extinção de espécies (segundo o Living Planet Index, o número de animais no planeta diminuiu cerca de 52% desde 1970), contaminação química do meio ambiente, erosão eólica e hídrica (devido ao emprego maciço de nitrogênio), poluição do sistema de água (notadamente a ocorrência de eutrofização dos oceanos, e a contaminação de nascentes), poluição do ar (devido ao acúmulo de gases, líquidos e partículas sólidas em suspensão) e a crescente dificuldade de polinização, entre outros.
Da incidência desses preocupantes desajustes ecológicos e ambientais, implica dizer que a urgência maior, em termos de desafios a serem superados pela geração de agora, para garantir um futuro promissor à geração futura, passa preponderantemente por uma profunda transformação na lógica da economia global, combinada a uma sistemática reversão do modus antrópico da atualidade.
Nessa perspectiva, transformar a economia dos homens significa, sem o emprego de palavras vazias, propor a mudança do ritmo de produção e consumo globais e, a partir disso, intencionar reconstruir o metabolismo ser humano-natureza, buscando reconstruir a própria economia, e consolidando, na íntima relação homem-natureza, uma ligação integrada e sustentável (quadrante à direita), superando definitivamente a situação hodierna (quadrante à esquerda), da Figura 1, a seguir.

Figura 1: relação homem-natureza

Contudo, um esclarecimento se faz oportuno: se é pouco provável – senão uma miraculosa utopia – promover a reconstrução de toda a estrutura da economia (seu arcabouço axial), é perfeitamente plausível enveredar esforços para, ao menos, reorientar os pressupostos basilares da atividade econômica, partindo então para uma etapa de produção econômica de baixo carbono, sequencialmente criando condições para desmaterializar a economia (serviços e processos produtivos), ou seja, reduzindo a intensidade energética e de material usada na produção econômica.
Essas condições propiciam, grosso modo e pari passu, que se converta em realidade algumas utopias há muito gestadas na sociedade moderna, quais sejam: conciliar ecologia e economia e harmonizar a relação natureza-homem (novamente olhando-se com acurada atenção para o emprego da condição localizada no quadrante à direita da Figura 1).
O motivo: preservar o meio ambiente/conservar a natureza, mitigando consequentemente o crescimento econômico (vetor das emissões de gases estufa), sem, no entanto, renunciar a busca do desenvolvimento econômico, cuja dimensão é (e sempre será) social, identificada no viés qualitativo da economia; diferente, portanto, da dimensão econômica do crescimento, com viés quantitativo.
É certo que toda essa questão envolvida na desejável boa parceria entre o ser humano e o meio ambiente acirra os ânimos porque com isso não somente se discute a imprescindível proteção ambiental, mas explicitamente tudo aquilo que está relacionado às condições de vida reservadas aos homens e mulheres no futuro, bem como ao mundo animal.
Sendo assim, a ideia norteadora aqui discutida, que deve partir obrigatoriamente dos stakeholders, precisa delimitar as condições de vida econômica adaptadas ao tamanho e possibilidades da Terra. Sob essa inspiração, cabe asseverar que, no centro das propostas que se espera sejam prontamente debatidas visando encontrar um novo jeito de organizar a vida econômica, a economia (tanto a ciência quanto a atividade) tem de ser vista como um sistema parcial, inserido num sistema completo (a ecologia); portanto, mudando a situação contrária hoje estabelecida.
Para o bem maior do equilíbrio ambiental, a economia (extração-produção-consumo-descarte) centrada na fixa ideia do crescimento, do jeito como tem sido praticada até o momento, chamada assim de linear, e por ter conseguido transformar o planeta num imenso hipermercado, entulhando-o de mercadorias e bugigangas, com o propósito descarado de nos obrigar a consumir cada vez mais para assim – e somente assim – abrir as portas do progresso, não pode mais permanecer.
Sem delongas, é notório que a Terra não suporta mais duas cotidianas situações: a pressão econômica, inclinada à crescente produção industrial; e a pressão humana, inclinada ao sufocante consumo material. Vale insistir: esse modelo de economia linear que aí está encontra-se completamente esgotado, justamente porque, de igual modo, vem esgotando as reservas biofísicas do planeta.
Vale insistir num argumento-chave. Para experienciarmos a transformação da economia, é absolutamente necessário, antecipadamente, que se reconheça um ponto fulcral: a economia nada mais é do que um subsistema de um sistema maior chamado meio ambiente. Partindo desse reconhecimento, subleva-se a condição de se respeitar as fronteiras ecológicas, não ultrapassando os limites existentes da natureza, estabelecendo, a par disso, a noção central de que é a natureza – e somente ela – a responsável por provisionar e sustentar toda a atividade de produção econômica; logo, é a natureza – e nada mais – que limita o processo de produção econômico-industrial.
Por fim, com relativa facilidade, o que a ciência tem nos mostrado, em termos de conhecimento e dados técnicos, não deixa dúvidas de que os limites biofísicos do planeta põem em xeque esse destrutivo modelo de crescimento econômico global com o qual temos convivido até o presente momento. Daí a urgência de sepultá-lo, implantando um novo jeito de organizar a vida econômica; afinal, sem exageros retóricos, estamos no limiar de um colapso geral.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental
prof.marcuseduardo@bol.com.br

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